reflexoO fundo do poço sempre se caracterizou, para mim, como um lugar onde enxergamos o nosso próprio reflexo. Não tenho bem certeza de onde tirei essa idéia, mas me parece que é daquelas histórias de princesas que eu lia quando era criança. Aquelas histórias nas quais a princesa ficava olhando para seu reflexo nas águas profundas dos poços e imaginando como seria seu futuro ao lado do príncipe encantado.
re.fle.xo
1 Que se faz por meio da reflexão; refletido.
2 Bot Que se dobra sobre si mesmo.
3 Indireto.
4 Imitado, reproduzido.
5 V voz reflexa.
6 Fisiol Diz-se do ato, movimento ou secreção que se realiza
involuntariamente em conseqüência de excitação nervosa exterior.
7 Filos Que é caracterizado pela reflexão consciente e deliberada.
1 Efeito produzido pela luz refletida; revérbero.
2 Reflexão da luz, do calor, do som.
3 Raio de luz; clarão vago, amortecido.
4 Luz indireta.
5 Representação confusa
de um corpo; imagem refletida.
6 Reação, resposta.
7 Imitação; influência indireta; reprodução.
8 Fisiol Ato ou
movimento reflexo.
9 Psicol Reação natural, emocional ou orgânica,
provocada por excitação interna ou externa.
Princesas à parte, essa idéia de “fundo do poço” nem sempre soa como algo bonito. Pode muitas vezes não ser prazerosa também. O curioso é que só agora me dei conta de que o que representa o fim da linha para alguém pode ser apenas uma curva no caminho de outrem. E essa constatação, além de extremamente desconcertante, é igualmente supreendente.
O fato é que, ao se chegar ao fundo do poço, é preciso ter coragem o suficiente para encarar o próprio reflexo. Aquele que esteve ali o tempo todo, o qual insistimos em ignorar a existência.
Admitir que uma caminhada chegou ao fim e que outra vez é preciso recomeçar não é uma tarefa fácil. Porque todo reflexo, segundo o sempre amigo Michaelis, é algo que se dobra sobre si mesmo, é a representação confusa de um corpo, uma reação, uma resposta. Uma resposta, diga-se de passagem, extremamente individual. Porque o rosto que se vê refletido no fundo do poço é o seu rosto, e não o do amigo que vive te dando conselhos. A representação confusa que se corporifica ali é a sua própria representação confusa, que permanecerá confusa até que você mesmo a transforme em algo claro, límpido; num raio de luz, ainda segundo o Michaelis.
Mas, uma vez abertos os olhos, e uma vez encarado o reflexo, há que se fazer alguma coisa. Qualquer coisa. Porquanto o fundo do poço, além de ser um lugar onde podemos nos enxergar tal qual somos – e acima de tudo, aceitarmo-nos tal qual somos – é também um local onde nos é permitido renascer. Começar de novo, dar início à um ato ou movimento reflexo que nos levará além. Simplesmente porque o fundo do poço, seja ele qual for, é o lugar onde todas as portas se abrem.